SOMOS ÁTOMOS DE DEUS

SOMOS ÁTOMOS DE DEUS

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

FENÔMENO RELIGIOSO



  

O fenômeno religioso


  Francisco de Souza Brasil
   A Religião se caracteriza por uma concepção de universo na qual se nega que o mundo
 dos sentidos seja suficiente e adequado, reconhecendo uma realidade transcendente.
   No campo do estudo da Religião como expressão psicossocial temos três disciplinas

 diferentes: a hierografia (que trata da história das religiões), a hierologia (que trata da
 psicologia das religiões) e a hierosofia (que trata da filosofia das religiões). As duas
 primeiras podem ser estudadas amigavelmente por pessoas de convicções diversas
. A última, entretanto, não pode, por causa dos juízos de valor sobre o que seja verdadeiro
 ou não.
   O principal atributo do sobrenatural é o Poder, seguido de perto pelo Maravilhoso.

 O sobrenatural pode ser relacionado a objetos ou a fenômenos. Ou assumir formas 
antropomórficas ou até antropozoomórficas, como no politeísmo. Finalmente, o


 sobrenatural pode ser relacionado em sua forma mais sublime, na crença de um
 Deus único, criador do mundo e, portanto, pré-existente a ele.
    
  Religião e magia


   Em qualquer religião o elemento mágico (simbólico) está presente. O símbolo é uma
 evocação de algo que ele passa a representar. O que diferencia o símbolo religioso do
 símbolo laico é o elemento mágico, que simboliza o sobrenatural. Não se deve confundir
 religião com magia, pois a religião é uma expressão sublime do gênero humano, enquanto
 a magia é uma forma mais simplória, ou até grotesca, do relacionamento do homem com
o sobrenatural.
   Paradoxalmente, o elemento mágico se apresenta até em posturas ateístas: Augusto
 Comte, ao anunciar aos homens o Estado Positivo, que se sucederia ao Estado Metafísico,
 terminou por criar uma religião sem Deus, a Humanidade. Ela teria um símbolo
 antropomórfico, o da sua esposa, Clotilde de Vaux.
   Na simbologia, a distinção entre o laico e o religioso às vezes se situa numa zona

 nebulosa. O símbolo laico pode despertar emoções coletivas mais parecidas com a de
 um símbolo religioso. Isso pode se dever a um nacionalismo exacerbado, que leve ao culto
 de um símbolo, como a cruz suástica. Ou também, a uma religiosidade subjacente de um
 grupo social tornado laico à força, como o povo russo e seu relacionamento com o cadáver
 de Lênin durante o regime soviético.
   A magia se distingue da religião porque nela o homem julga poder conduzir o sobrenatural

. Se o mundo natural está sujeito a leis imutáveis, o sobrenatural poderia ser coagido a
dobrar-se à vontade humana por práticas ritualísticas. A magia se situa entre a religião e a
 ciência, mas é independente de ambas. Religião e magia operam no sobrenatural e como
 na ciência, que, entretanto, opera no campo natural, a magia sistematiza causas e efeitos,
 porém de natureza subjetiva, e não objetiva como na ciência. Enquanto a realidade científica
 é comprovada, as conexões mágicas são ficções de conteúdo emocional, de resultados
 inverificáveis, ou atribuíveis a efeitos psicossomáticos ou coincidências. Em relação ao
 sobrenatural, a religião o conceitua, a magia o domina e a ciência não o repele, até porque
 esta última nasceu da magia.

      O conteúdo da religião


   A religião tem elementos intelectivos, afetivos e ativos.
   Os elementos intelectivos representam a crença, que conduz ao dogma. Os afetivos

 englobam os estados emocionais. Os elementos ativos conduzem ao culto e ao ritual.
 Em outras palavras: a crença é o que se crê; a emoção é por quê se crê; o ritual, como
 se crê.
   A crença corresponde a uma expectativa. No caso da Religião, a crença é a convicção

 da realidade de algo, baseada em motivos julgados subjetivamente como suficientes.
 Se acrescentarmos à crença intelectiva um elemento de confiança, teremos a fé.
   O dogma é a cristalização da fé em doutrina, num ensinamento definido e imposto pela

 autoridade religiosa. Por isso, o dogma é incontestável e indiscutível. Substitui a certeza
 objetiva da prova pela certeza subjetiva da fé.
   Os elementos afetivos são respostas culturais destinadas a liberar o homem do temor de

 um mundo que lhe pode ser adverso. Reconfortado pela fé, com sua moral elevada, o homem
 pode agir em condições mais favoráveis.
   O misticismo representa a culminação da experiência religiosa, pois corresponde à

 identificação mais próxima possível do crente com o seu Deus. Uma das suas características
 fundamentais é de não ser um fenômeno provocado voluntariamente pelo indivíduo. Ele é
 imposto, acarretando uma alteração involuntária da consciência.
   Para que o iluminado atinja a identificação com o inefável não basta a experiência religiosa,

 já que os elementos intelectivos (crença, fé e dogma) terão que interagir. Essa interação
também está presente, tanto na magia, em formas grosseiras de fetichismo, como em São
 João da Cruz e em Santa Tereza de Ávila.
   Os elementos ativos se exteriorizam na experiência de algo, sem querer reproduzi-lo ou

repeti-lo. Mas o dogma pode afirmar a repetição: a Transubstanciação não é uma evocação
 da Santa Ceia, mas é a própria Santa Ceia que se repete a cada celebração da Missa.

      Simbologia


   A simbologia é um elemento ativo, uma condensação de energia maior do que a aparente
 trivialidade da sua forma. Ela ocorre no mundo religioso diante da imagem do Jesus
 crucificado como no mundo laico, ao observarmos a bandeira ou o Hino Nacional.
   O ritual como simbologia também não é exclusivamente religioso. Existe nos atos

 jurídicos solenes, como o casamento civil. Alguns rituais são simultaneamente religiosos
 e laicos, como a coroação do Papa ou do Rei da Inglaterra. Mais do que chefes de estado,
 eles são chefes religiosos, e dotados de poderes temporais e espirituais.
   Dada a carga emocional ou afetiva, é no campo da religião que os elementos ativos atingem

 sua expressão máxima. O mundo sobrenatural, invisível e poderoso, exige do crente uma
 atitude de respeito que se manifesta no ritual, carregado de emoção.
   Nas crises, a religião é um meio social de ajustamento, e seus rituais são a sua técnica.
   O fenômeno religioso é uma das forças sociais mais conservadoras, sustentando-se

 firmemente na tradição, sendo raras as transformações religiosas. Quando elas se operam,
 ocorrem geralmente nos elementos ativos, incorporando rituais de outras religiões.
Raramente ocorrem nos elementos afetivos, mas, quando acontecem, é por influência
 da adoção de elementos ativos, como nas evangelizações.
   No caso dos elementos intelectivos, as transformações religiosas são consideradas

heresias. Elas são revolucionárias, representando uma ruptura súbita com o passado.
 A desaparição das religiões é mais completa do que a de outros fenômenos não
 religiosos. Ninguém mais cultua os deuses gregos e romanos, mas o Direito Público
 e o Direito Privado ainda se inspiram no que Grécia e Roma produziram.
   O inconformismo artístico é punido menos severamente que o religioso, já que a

 arte evolui de formas múltiplas, mas pouco bruscas, havendo evolução gradual nos
 estilos. No máximo, há o sofrimento individual de artistas, como Beethoven e Van Gogh.
 Mas, isso não gera guerras ou genocídios.
   Há explicações teístas e ateístas para o fenômeno religioso:
   Para a psicanálise, o elemento erótico estaria na origem do sentimento religioso. Para

 a psicologia, o estado de religiosidade teria natureza emocional, decorrente de causas
 fisiológicas. Para a sociologia, a religião pode ser entendida como um sistema de crenças
 transmitidas pelo grupo por representações coletivas.
   A tese teísta se fixa na Causa primeira, a Causa das causas. Não se limita às relações,

campo das teses ateístas e cientificistas, mas recua a um Princípio incriado, criador de
 tudo e de todos.
   Ciência e fé não são opostas, mesmo que a História tenha registrado antagonismos

 exteriorizados até com violência. Cada uma delas age num plano, e a comparação entre
 realidades tão diferentes não faz sentido. Fé não é fanatismo, que se traduz na perversão
 da fé, fruto talvez da limitação humana que nos foi imposta pelo pecado original. É preciso
 considerar também que o fanatismo não é uma atitude exclusiva nos que crêem no
 sobrenatural.



NOVA ERA

O movimento da Nova Era (do inglês New Age) possui muitas subdivisões, sendo geralmente uma fusão de ensinos metafísicos de influência oriental, de linhas teológicas, de crençasespiritualistasanimistas e paracientíficas, com uma proposta de um novo modelo de consciência moral, psicológica e social além de integração e simbiose com o meio envolvente, a Natureza e até o Cosmos.

[editar]Espiritualidade

É uma teologia ou uma "filosofia de vida" de bem-estartolerância universal. A Nova Era pretende realizar o que seu nome indica: “derramamento de água” ou “era de aquários” sobre o mundo, para simbolizar a vinda de um novo “espírito” ou “nova mentalidade”. Esta “nova mentalidade” provocará nos seres humanos uma expressão (ou "despertar") de consciência. Para auxiliar neste processo, algumas psicotécnicas também podem ser empregadas, tais como: TarôYogaMeditaçãoMapa AstralGurusEsoterismo, novas culturas, orações,jogo de Búzios, pirâmides, cristais, numerologiaGnoseTeosofiaAcupunturaHomeopatiaFitoterapiaPacifismo, Rebieth, Channellins, Sincretismo, busca interior, livros deautoajudamagia, predição, novo pensamento etc. e esta iluminação deverá possibilitar uma vida com menos dificuldades e menos problemas. A "Nova Era" não é vista por seus seguidores como uma religião propriamente dita, mas apresenta propostas de vida religiosa. Não é um movimento filosófico propriamente dito - pois não parte de construções racionais para justificar suas proposições -, mas tenta dar respostas (ditas) filosóficas a questões existenciais. Não é uma ciência, mas busca alicerçar-se em leis científicas (ou pseudocientíficas).
A “Era Cristã” é considerada, pelos adeptos da Nova Era, como a “Era de Peixes” (símbolo do zodíaco), porque, conforme a astrologia, as eras do zodíaco vão se sucedendo, durando cada uma em média 2.150 anos; atualmente, está terminando a de Peixes e deve começar, em breve, a Era de Aquarius. Para os seguidores da Nova Era, a de Peixes é identificada como era cristã, visto que o peixe era, para os primeiros cristãos, um símbolo de Jesus Cristo e do "Salvador", pois, devido às perseguições da época, torturas e prisões, eles não podiam divulgar o Evangelho abertamente.
Também existe o genêro musical New Age que, embora na sua origem não esteja relacionada diretamente com este movimento, acabou com o tempo por se correlacionar com ele, na medida em que recorre a sonoridades e arranjos harmónicos sugestivos, ou propiciadores de estados de espírito tranquilos e de comunhão com o Cosmo.

[editar]Política e religião

No âmbito religioso misturam também princípios filosóficos e místicos. Alguns instrumentos usados para esses fins são as pirâmides, filosofias orientais, energias cósmicas, cristais energéticos, amuletos, pensamentos positivos, esoterismo (cabala, horóscopo, mantra, mapa astral, Yoga, relaxamento, “ecologia”, aura em harmonia com o corpo, Yin Yang). Acredita-se que a humanidade, assim como todas as coisas, são UM (estão em unidade) com o Cosmos (ou "Deus"). Você mesmo assume-se como parte de Deus.
O oculto, o misterioso, o esoterismo, a astrologia, destino, medicina alternativa com filosofias, estrelas influenciando as nossas atitudes, livros de auto-ajuda... Tudo isso faz parte da Nova Era. Esse movimento se sustenta em 4 pilares (Subestrutura científica, O uso de “doutrinas” das religiões orientais, Nova Psicologia e Astrologia). Dentro do prisma da "Nova Era" está a uniformização, principalmente a do sistema econômico, as “leis” da globalização, como percebemos em nossos dias, estão envolvidas nesse processo.
Algumas pessoas, principalmente de religiões cristãs, afirmam que o movimento "Nova Era" não passa de uma fraude, a qual prepara o terreno para o surgimento do Anticristo, onde serão unificadas as religiões.

[editar]Crenças

Tipicamente, os new agers partilham de algumas, (não necessariamente de todas), das seguintes crenças que foram adotadas de outras filosofias a fim de completar sua propria ideologia:
  1. Toda a Humanidade, - na verdade toda a vida, tudo no Universo. - é espiritual e está ligado entre si. Tudo participa da mesma EnergiaDeus é o nome para esta "energia".
  2. Os seres espirituais (exemplo: anjos, guias espirituais, elementais, espíritos, extraterrestres, ...) existem. Podem nos guiar se nos dispusermos a ser por eles guiados.
  3. mente humana tem níveis de profundidade e vastos poderes que podem mesmo substituir a realidade. "tu crias a tua própria realidade com a tua mente". No entanto isto é determinado por algumas leis espirituais (karma).
  4. indivíduo nasce na terra com um propósito. Tem a missão de aprender. A mais importante lição para aprender nesta vida é o Amor.
  5. morte não é o fim. Há vida em diferentes formas e dimensões. Uma vida depois da morte não existe nunca para nos punir mas para nos ensinar pelos mecanismos daReencarnação e eventualmente pelas experiências de Quase Morte.
  6. Ciência e a Espiritualidade são em última análise harmonizáveis. As novas descobertas em Ciência, Teoria da Evolução, Mecânica Quântica entendidas de maneira acertada apontam para princípios espirituais.
  7. Há uma coisa partilhada por todas as religiões, que a Intuição ou "ser guiado divinamente" é melhor para ser usado na nossa vida pessoal do que o racionalismo, o cepticismo ou o método científico. A ciência ocidental erradamente negligencia coisas como a parapsicologia, a meditação, e a saúde holística.
  8. Há um núcleo místico de sabedoria em todas as religiões Orientais e Ocidentais. O dogma e a identidade religiosa não são importantes mas sim o conteúdo espiritual.
  9. Há princípios místicos masculino/feminino nas coisas, que assim como no ying/yang só se completam na sua união.
  10. As formas femininas da espiritualidade, incluindo imagens femininas do divino, são vistas como tendo sido subordinadas, escondidas pelas religiões tradicionais patriarcais. São divindades anteriores às religiões patriarcais. O renascimento do feminino é particularmente apropriado ao nosso tempo.
  11. As antigas civilizações como a Atlântida devem ter existido deixando para trás certos monumentos (como As Pirâmides do EgiptoStonehenge) cuja verdadeira natureza não foi descoberta pelos Historiadores mainstream.
  12. Não há coincidências (Jung chamou a isso de Sincronicidade). Tudo à tua volta tem significado espiritual. E tudo te pode ensinar lições espirituais. As adversidades são lições de vida.
  13. mente tem poderes e capacidades escondidos que têm significado espiritual. Os sonhos e as experiências psíquicas são modos de as almas se expressarem.
  14. Meditaçãoyoga, t'ai chi, e outras práticas orientais são válidas e devem ser desenvolvidas.
  15. comida que comes afecta-te a mente assim como o corpo. É preferível comer comida vegetariana. A carne tem por base a morte de animais, é por isso um alimento que tem dentro uma carga de violência.
  16. Em rigor qualquer relação interpessoal tem potencial para desenvolvermos o nosso espírito.
  17. Aprendemos nas relações com as outras pessoas passando a saber o que é que precisamos de desenvolver em nós próprios e quais forças temos que trazer aos outros para também os ajudar.
  18. Todas as nossas relações vão ser repetidas até serem curadas, se necessário através de várias encarnações.
  19. Como Almas que procura a unidade com o Todo o nosso objectivo último é o de Amar a toda a gente com quem temos contacto.
  20. Certas localidades certos locais têm propriedades especiais de energia, esta pode ser energia feminina ou masculina. Esses locais são chamados de vortex (ou portais) e esses locais são considerados sagrados e têm propriedades curativas pelas populações ancestrais indígenas desses locais.

SEXUALIDADE E RELIGIÃO



Marcelo Natividade*

Religião e sexualidade: convicções e responsabilidades, organizado por Emerson Giumbelli, 181 p. Ed. Garamond.
Como diferentes religiões lidam com o tema da sexualidade na sociedade contemporânea? Como importantes bandeiras da luta pelos direitos sexuais, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo e o direito ao aborto, são contempladas por certas crenças religiosas? Quais os limites de interferência da religião nas esferas pública e política no que se refere ao exercício da sexualidade e à conquista dos direitos sexuais? O livro polemiza estas e outras questões com textos que reproduzem o discurso de religiosos, em seminário dedicado ao diálogo entre distintos atores sociais (religiosos, acadêmicos e ativistas).

A publicação permite antever um panorama de posicionamentos doutrinários contemporâneos não contemplado em pesquisas no Brasil, assinalando as formas de regulação da sexualidade em contextos religiosos. As mudanças recentes apresentam-se no contraste entre perspectivas hegemônicas e minoritárias. Tensões são evidenciadas, relativas aos direitos humanos e ao exercício da sexualidade. Por exemplo, enquanto a Igreja Católica mantém a condenação oficial de práticas abortivas e uso de contraceptivos, como os preservativos, cresce o número de mulheres pobres que morrem em situações de aborto clandestino. O discurso religioso cristão – em uma perspectiva hegemônica – se apresenta com uma grande carga de concepções morais apesar de propagar a idéia de ‘acolhida’ de homossexuais: são difundidas nesse universo representações que caracterizam as práticas homossexuais como “pecado”, “anormalidade” e comportamento que se opõe ao “plano divino”. O aborto permanece como tema tabu em diferentes cenários religiosos, quase sempre condenado, a partir da valorização e respeito à vida humana. O embate travado em torno da proposta evangélica de reversão da homossexualidade por meio de terapias e/ou conversão religiosa ressalta a complexidade da articulação entre religião e sexualidade.

Homossexualidade, aborto e AIDS: convicções e responsabilidades

O primeiro conjunto de textos (Religião e seus posicionamentos I) aborda a aceitação/condenação da homossexualidade em distintas perspectivas religiosas, chamando a atenção pra o conservadorismo das doutrinas quando o assunto é sexualidade.

A posição oficial da Igreja Católica é contrária à prática da homossexualidade, principalmente a partir de um posicionamento acerca da legitimidade do projeto de Parceria Civil: “a Igreja Católica não admite que se façam comparações entre a união entre pessoas do mesmo sexo e o matrimônio no sentido cristão do termo”. Por outro lado, o catolicismo comporta posturas mais flexíveis no convívio cotidiano entre fiéis e sacerdotes, como mostra o sacerdote franciscano Antônio Moser, ao comentar sobre a crescente sensibilidade pastoral para o atendimento a homossexuais no Brasil.

Outro posicionamento cristão abordado é o da Igreja Anglicana, que concebe a homossexualidade como “incompatível com as Sagradas Escrituras”. Nesse sentido, a Diocese Anglicana do Recife chega a proibir a ordenação de clérigos homossexuais ou de heterossexuais “que defendam a normalidade da opção homoerótica”. A Igreja Presbiteriana no Brasil (em uma perspectiva hegemônica) também condena a homossexualidade como “pecado”, alinhada a outras denominações protestantes, portadoras de uma ética sexual puritana centrada em perspectiva literalista da Bíblia. Já a visão do espiritismo kardecista considera a existência de uma trajetória do espírito em sucessivas vidas. A teoria da reencarnação compreende a homossexualidade como uma tendência/personalidade adquirida em experiências vivenciadas em diferentes encarnações. Do ponto de vista dos ensinamentos doutrinários, a homossexualidade pode ser significada também como uma “prova”, possibilidade de “educação dos sentimentos” através dos sofrimentos e lutas interiores.

A segunda seção (Religião e seus posicionamentos II) apresenta uma perspectiva mais ampla, incluindo a discussão sobre o aborto. Também destaca os posicionamentos favoráveis à homossexualidade. A atuação da ONG feministaCatólicas pelo direito de decidir, chama a atenção para a pluralidade de pensamentos no catolicismo, e assinala os conflitos que se estabelecem entre forças conservadoras e progressistas. No interior de uma Igreja que sustenta firmemente sua posição combativa ao aborto, surge como uma voz dissonante que defende a descriminalização e legalização do aborto. Outro discurso minoritário é o de igrejas protestantes “liberais” como a Igreja Presbiteriana Bethesda de Copacabana, no Rio de Janeiro, que “aceita” a homossexualidade a partir da proposta de uma igreja inclusiva e liberal. Já o culto afro-brasileiro aparece como religião mais flexível à presença de homossexuais.

Os textos da terceira seção (Experiências e propostas em redes religiosas) consistem em relatos de líderes religiosos sobre pastorais de atendimento a pessoas com Aids e homossexuais e também de pesquisadores-ativistas em trabalhos de prevenção à Aids e outras DSTs. O grupo ecumênico Convivência Cristã abriga pessoas que se sentem excluídas de espaços religiosos que condenam a homossexualidade, permitindo a possibilidade de conciliação entre opção sexual e exercício da fé religiosa. No caminho oposto, perspectivas religiosas de vertente evangélica/protestante como o Corpo de psicólogos e psiquiatras cristãos, prometem a reversão da homossexualidade por meio de terapias e/ou conversão. Nesse sentido, a psicóloga religiosa Rosângela Justino polemiza ao afirmar que “há pessoas em todo o Brasil procurando apoio para sair da homossexualidade”.

O catolicismo é enfocado através do relato de iniciativas que acolhem portadores de HIV. O padre Valeriano Paitone, criador de casas de apoio a pessoas vitimizadas pela Aids, critica o moralismo oficial da Igreja e ressalta a responsabilidade das religiões em favor dos direitos humanos. Para ele, a Igreja deveria rever sua posição sobre temas que ainda considera tabu, como a Aids – o que permitiria que muitos trabalhos realizados com desviantes da norma religiosa saíssem da clandestinidade. Destaco ainda nesta seção, os relatos dos pesquisadores Luis Felipe Rios e José Marmo sobre representações da sexualidade entre adeptos do candomblé, cuja proposta interventiva é voltada à formação de sujeitos sexuais.

O desafio dos direitos humanos

O livro debate e explicita a complexidade da tarefa de promoção de um diálogo entre diferentes visões de mundo. Perspectivas doutrinárias e cosmológicas estão em jogo, em diálogo com tradições religiosas. Valores caros à promoção dos direitos humanos, como respeito à diversidade sexual e a não estigmatização das minorias sexuais, indicam a necessidade premente de indagação sobre as formas de abordagem e de regulação da sexualidade em discursos religiosos. Indo além, questionam as conseqüências sociais e políticas de tais posicionamentos. O desafio que aqui se coloca diz respeito ao impasse referente a conciliar diferentes convicções com as responsabilidades sociais em questão. A leitura do livro é um bom ponto de partida aos interessados no tema, por proporcionar um panorama geral e apresentar as tendências contemporâneas religiosas sobre a sexualidade.



* Doutorando em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. 



( VÍDEOS SOBRE SEXUALIDADE ):





https://youtu.be/ho-iGFctXe8 (Música: Amor e Sexo/Rita Lee)



Rita Lee - Amor e Sexo

NOTA DAS CEBs NO JORNAL O POVO

Nota das CEBs no Jornal O Povo, Pg 25 - 18/12/2011 

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Arquidiocese de Fortaleza
Nota de apoio às comunidades do trilho em luta contra a política de higienização social do Governo do estado
As Comunidades Eclesiais de Base de Fortaleza, sensibilizadas pelo clamor dos moradores ao longo da via férrea entre Parangaba e Mucuripe, vêm a público declarar sua irrestrita solidariedade aos concidadãos ameaçados de remoção pelo Governo do Estado do Ceará e denunciar oautoritarismo e a falta de diálogo e transparência deste mesmo Governo. Diante da propaganda oficial maciça com relação às obras para a COPA de 2014, as CEBs querem tomar posição, questionando os seguintes pontos:
                                 I.            Admitindo a utilidade do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para melhorar a infraestrutura da cidade em vista da COPA de 2014, questiona-se, no entanto, a necessidade de fazê-lo correr por sobre o trilho atual, já que isso implica mexer com as residências de 5000 famílias, distribuídas em 22 comunidades ao longo da via férrea – algo que é muito oneroso para os cofres públicos, devido às indenizações. Em muitas cidades europeias o VLT (ou bonde) corre sobre trilhos colocados dentro do leito da rua, em faixa própria, sem prejuízo para o trânsito de automóveis. O fato de o Governo Cid Gomes ter descartado tão depressa as alternativas tecnológicasexistentes indica que pretende mesmo é “limpar” a área nobre da cidade de famílias pobres para entregar o espaço às grandes construtoras de prédios e condomínios de luxo. Um vídeo que está circulando na Internet e mostra o governador prometendo a empresários disponibilizar aquela área para a “verticalização” comprova claramente esta suspeita!
                                II.            As famílias ameaçadas pelo projeto “Mobilidade Urbana” experimentam, em pleno Natal, um clima de terror e de total insegurança com relação ao futuro de seus lares. Os agentes do Estado têm mantido a população atingida cronicamente desinformada; as iniciativas do Governo têm chegado aos ouvidos das comunidades através da imprensa. Dada a magnitude do drama social que as planejadas remoções desencadearão, deve-se repudiar com veemência oautoritarismo e a falta de diálogo com que as autoridades públicas (des)tratam cidadãos e cidadãs pobres de Fortaleza.
                              III.            O poder municipal está omisso nessa questão. Sobretudo a comunidade do Lagamar, transformada em ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) há alguns anos, lembra como a prefeita vetou ao Governo do Estado a implantação de um estaleiro no Titanzinho. Sendo autoridade máxima na capital, poderia fazer o mesmo no caso do Lagamar e de outras comunidades, apostando em urbanização e qualificação das moradias existentes ao invés de remoção. Ou prevaleceria aqui o acordo político eleitoral com o governador por sobre os direitos de cidadãos fortalezenses?
                             IV.            As famílias que já aceitaram acordo com os agentes do Governo, por quererem deixar o Trilho em busca de uma área melhor para morar, estão hoje arrependidas: Suas casas têm sido avaliadas muito abaixo de seu real valor, com propostas deindenização pífias que não permitem adquirir uma moradia decente alhures. O Estado nega-se a indenizar mais do que “as paredes da casa”, alegando que a maioria das famílias, embora resida há décadas em seus terrenos, nunca requereu título de propriedade através da Lei do Usucapião.Na verdade, a autoridademunicipaldeveria ter providenciado há anos a regularização dos títulos fundiários para esta população.Além disso, habitam normalmente em cada terreno dois ou três núcleos familiares – que são indenizados como se fossem uma única casa! Quanta injustiça!
                               V.            Verificou-se que o terreno apontado pelo Governo Cid para receber as famílias removidas do Trilho, situado além do bairro Pref. José Walter, encontra-se até agora sem infraestrutura e construção alguma. Ao invés disso, está ocupado por população sem-teto à qual tinha sido prometido, anteriormente, como local de sua futura moradia! Diante do impasse, o Governo Estadual aprovou, em regime de urgência, mensagem na AL que autoriza pagamento de R$ 200,- mensais de “aluguel social” para as famílias mais carentes, até o recebimento de um imóvel no projeto Minha Casa, Minha Vida. Pergunta-se: Onde numerosas famílias acharão, contando apenas com esta quantia ridícula, abrigo de sol e chuva – e isso ao longo de no mínimo um ano, já que nenhuma obra habitacional foi iniciada até agora para receber toda essa população? Que “Feliz Ano Novo” é esse que o Governo deseja a seus cidadãos?
                             VI.            As comunidades reivindicam que o Governo do Estado cumpra a lei que estabelece como dever das autoridades encontrar um terreno nos arredores (até 2 km) do antigo local de moradia para reassentamento de populações removidas. Os moradores do trilho têm direito de permanecerem próximos à área em que têm vivido todos esses anos. Não querem nada além do que é justo. As Comunidades Eclesiais de Base já os apoiamnesta luta. Conclamamos todas as pessoas de boa vontade e as entidades cívicas de defesa dos direitos do cidadão a se ocuparem, também, dessa causa! Para que a justiça e a paz se abracem de verdade, neste Natal...

Pela abertura imediata de negociações entre governo e comunidades! Pelo direito à moradia digna!

ACoordenação A r q u i d i o c e s a n a   d a s   C E B s   d e   F o r t a l e z a   (8736-6963 e 3263-2730)