Mestre Eckhart foi um dos mais fecundos pensadores da filosofia medieval alemã. Como tal, Eckhart insere-se na longa corrente de uma mística neoplatônica, eivada das conclusões deAgostinho e do Pseudo-Dionísio, o Areopagita.
Nesta tradição, Eckhart, embora cravado de balas inquisitórias em seu tempo, não sai dos referenciais cristãos e da tradição. Ocorre, portanto, que o Mestre renano tem a estatura que lhe é negada pela Igreja de Roma, sob os velhos ranços da suspeita da heresia.
O problema da linguagem em Eckhart, entretanto, levanta problemas: como geralmente acontece no idioma místico-negativo, tudo parece recender a panteísmo. Não há, todavia, uma linguagem positiva que possa driblar a noção aparente de panteísmo na mística que seja digna do nome: o texto principal de Eckhart, este também objeto de uma interminável discussão acerca de sua autenticidade, orbita em torno de um Deus que somente é alcançado pelo ser humano na medida em que este, assemelhando-se a Deus mesmo, esvazia-se no desprendimento (abgeschiedenheit). Desprender-se é o movimento para o Nada. Desprender-se provoca os interesses divinos na alma que assim se faz vazia: uma gravidade divina tende, inevitavelmente, para todo cristão que assume a postura desprendida diante da vida, do sofrimento e da morte. De tal desprendimento, portanto, chegar-se-ia ao estágio necessário da gelassenheit: a plena serenidade não estóica diante da existência.
Assim como Deus é Nada, fazer-se Nada é atrair Deus a si mesmo sendo, assim, feitos como somos realmente: um com Deus que só é Deus na dimensão da existência, porém, não da essência e, destarte, o Mestre nos remete à origem humana e leva-nos a sermos o que já somos desde sempre.
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