AS MUDANÇAS NA IGREJA SOB A
INFLUÊNCIA DO PAPA
A tradição católica traduz no
texto do evangelho de Mateus 16,18 que descreve: “Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja”, a fundamentação de uma doutrina segundo a
qual a hierarquia estruturada da Igreja atual assume o poder como uma
instituição criada por Jesus. Esta é uma declaração polêmica. Muitos teólogos e
biblistas rebateram esta afirmação, uma vez que Jesus compartilhou com seus
discípulos(as) numa comunidade fraterna itinerante com atitude de perdão, de
justiça e paz.
As mudanças ocorrem e isto é uma
verdade. Não é diferente no mundo da Igreja. Convivemos com os 50 anos do Concílio
Ecumênico Vaticano II (1962 - 1965). De lá para cá pouco se cumpriu no que diz
respeito aos 16 documentos assinados pelos papas João XXIII e Paulo VI. Depois
de João Paulo I e João Paulo II, veio Bento XVI (Joseph Tatizinger, alemão).
Sobre o ecumenismo o Concílio decreta em “Promover a restauração da unidade entre
todos os cristãos” (Unitatis Redintegratio(UR), 1), reconhecendo “todos que de
alguma forma já pertencem ao Povo de Deus (UR,3). Ainda falta muito
principalmente no tocante ao diálogo entre as diversas religiões. A Igreja
Católica Apostólica Romana não pode continuar com as atitudes da cristandade do período medieval imperando com as
afirmações como detentora da verdade, a única Igreja como caminho de salvação.
Neste mesmo documento aconselha que “em tudo cultivem a caridade” (UR,4).
Na América Latina celebramos os
40 anos da Teologia da Libertação que trouxe mudanças no contexto da Igreja ser
uma grande comunidade eclesial de base fundamentada na experiência da caminhada
do Povo de Deus inspirado no livro do Êxodo e no Evangelho de Jesus Cristo. O
exemplo dos primeiros cristão ensina que a Igreja deve ser em comunhão
fraterna, na fração do pão e em oração, compartilhando tudo com todos,
convivendo em unidade. Vendiam as suas propriedades e seus bens para repartir o
dinheiro entre todos, segundo a necessidade de cada um (cf. At 2,42-47).
Quais os problemas não resolvidos na Igreja Católica
no mundo moderno? E o que precisa mudar? Alguns pontos podem ser citados como
temas polêmicos que causam impacto no contexto social, a saber: A liturgia da
missa ainda é celebrada do mesmo jeito como era nos séculos passados; o celibato
é exigido para todos os seminaristas como um critério para ser padre; a
formação dos seminaristas e agentes de pastorais é desarticulada do compromisso
com os pobres, são orientados para administrar ainda uma paróquia; a
infabilidade do papa; a falta de participação feminina nas decisões da Igreja
como o direito de celebrar ou até eleger ou ser eleita uma papisa; o homossexualismo
dentro da Igreja; o planejamento familiar é orientado pelo catecismo romano e não
pela realidade atual da família, considerando pecado os métodos
anticonceptivos; o divórcio é outra realidade vista como um pecado e não como
uma questão legal; a falta de diálogo inter-religioso e o ecumenismo defendido
pelo Concílio Vaticano II ainda estão ano-luz de distância para uma vivência à
luz do evangelho de Jesus Cristo. Diante de tudo isto, diz Hans Küng, teólogo
suíço, “A Igreja está doente porque vive no século XI”.
A renúncia do papa Bento XVI
previsto oficialmente para o dia 28/02/2013, traduz um princípio de mudança em
favor de um mundo melhor, tendo em vista os limites de um sacerdote-professor
sem condições de resolver as questões supracitadas. A escolha do Sumo Pontífice
poderia acontecer no processo democrático pelos membros da Igreja Católica que
pelo batismo iniciaram na fé cristã e não somente pelos cardeais. Nós votamos
no nosso presidente da república, por que os católicos não podem votar na escolha
do papa?
Já chegou o tempo para um novo
cristianismo possível de convivência entre as diversas religiões. É preciso
entender a responsabilidade coletiva na construção da história humana baseado
no Evangelho de Jesus. O Reino de Deus começa no mundo criado por meio da
grande Igreja Povo de Deus serva e pobre. A cristandade já passou. Jesus não
criou o cristianismo nem fundou uma religião. “O culto a Jesus vai substituindo
o seguimento de Jesus” (J. Comblin). A religião é simbólica e doutrinal. O evangelho
é vivo, real e social. Exige renúncia ao poder.
Diante das questões que exigem mudanças na Igreja
cabe esta reflexão aqui exposta em favor do Evangelho que vem de Jesus Cristo
que sempre defendeu os pobres, os presos, os cegos, os oprimidos... “Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2,7).
*Jonas Serafim, licenciado em
Ciências da Religião.
(serafimjonas@yahoo.com.br)