O ROSTO
ÍNDIO DE DEUS
(Manuel M. Marzal, SJ)
Resumo: Jonas Serafim de Sousa
Para contribuir com uma reflexão da Igreja
Católica sobre a evangelização integral dos povos e culturas indígenas, este
resumo pretende mostrar um desafio que exigirá um conhecimento às tradições
místicas e rituais autóctones. Neste sentido pode-se promover uma nova
evangelização inculturada, descobrindo elementos libertadores existente no
rosto índio de Deus.
Os
ensinamentos da evangelização inicial desde o período colonial latino-americano
trouxeram outras questões que transformaram o novo mundo numa população
numerosa católica e cheia de esperança, inclusive, da própria Igreja. Desta
forma houve uma aproximação que a Igreja fez das sociedades e culturas
americanas.
Nesta
aproximação encontram-se algumas contradições. Uma seria “o caráter demoníaco
que se atribuía às religiões indígenas”; e outra, “a estreita vinculação da
Igreja com o estado colonial”, que procurava dominar e explorar política e
economicamente.
Para
entender tal situação no contexto pastoral sobre o caráter demoníaco das
religiões indígenas, relembro aqui a herança da teologia medieval até com base
bíblica (Br 4,7; Sl 96,5; Dt 32,17; ). Contudo, alguns missionários (os
jesuítas José de Acosta e Barnabé Cobo) compreenderam melhor a cultura nativa
percebendo que as religiões indígenas conheciam também o Deus verdadeiro
presente na natureza. Portanto, foi através da pregação apostólica de
reconciliação baseada na revelação que começou a revalorização das religiões
indígenas, influenciando assim para uma evangelização mais inculturada, apesar
do peso do romanismo teológico-pastoral nascido da contrarreforma. Sendo assim,
parece que o rosto índio de Deus não provém tanto da enculturação dos agentes
de pastoral, mas do sincretismo dos índios em seu esforço de conservar as
próprias crenças sobre Deus.
A
segunda contradição inerente à evangelização era sua vinculação com o estado
colonial. Na obra do missionário Pedro Quiroga , o índio Tito diz que “o
primeiro e principal ponto (da evangelização) deve ser pregar-lhes a liberdade
que Deus e o rei lhes dão...”. Tal resposta diante da evangelização impulsiva
atrelada ao sistema colonial sensibilizou a espiritualidade profética de poucos
missionários que tentaram superar essa contradição.
Bartolomeu
de las Casas (1478 – 1566), frade dominicano espanhol, bispo de Chiapas
(México), compreendeu o autogoverno dos índios e relutou em sua defesa,
promovendo uma evangelização sem dominação colonial. Apesar do protesto
profético contra a exploração dos índios e da construção utópica de sociedades
indígenas livres, a maioria dos evangelizadores optou pela evangelização a
partir das “repúblicas de índios” ou “comunidades indígenas” e em colaboração
com o regime colonial.
Diante
destas contradições entre evangelização e colonização, surgiu a resistência
indígena, tendo até rebeliões como o movimento de Taquiy Onqoy na serra
sul-peruana por volta de 1565. Além
disso, houve uma cristianização e um sincretismo religioso que consolidou novos
movimentos religiosos.
O
Documento de Puebla (1979) confirma a evangelização no presente e no futuro da
América Latina, partindo do fato do encontro étnico hispano-lusitano com as
culturas pré-colombianas e africanas.
A
evangelização indígena hoje, em tese, tem a intenção que relaciona a fé com a
cultura, o pensamento inculturado com a libertação e a pastoral com a missão
profética. Fica a deixa.
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