SOMOS ÁTOMOS DE DEUS

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domingo, 23 de setembro de 2018

O ROSTO ÍNDIO DE DEUS



O ROSTO ÍNDIO DE DEUS
(Manuel M. Marzal, SJ)
Resumo: Jonas Serafim de Sousa

 Para contribuir com uma reflexão da Igreja Católica sobre a evangelização integral dos povos e culturas indígenas, este resumo pretende mostrar um desafio que exigirá um conhecimento às tradições místicas e rituais autóctones. Neste sentido pode-se promover uma nova evangelização inculturada, descobrindo elementos libertadores existente no rosto índio de Deus.

Os ensinamentos da evangelização inicial desde o período colonial latino-americano trouxeram outras questões que transformaram o novo mundo numa população numerosa católica e cheia de esperança, inclusive, da própria Igreja. Desta forma houve uma aproximação que a Igreja fez das sociedades e culturas americanas.

Nesta aproximação encontram-se algumas contradições. Uma seria “o caráter demoníaco que se atribuía às religiões indígenas”; e outra, “a estreita vinculação da Igreja com o estado colonial”, que procurava dominar e explorar política e economicamente.

Para entender tal situação no contexto pastoral sobre o caráter demoníaco das religiões indígenas, relembro aqui a herança da teologia medieval até com base bíblica (Br 4,7; Sl 96,5; Dt 32,17; ). Contudo, alguns missionários (os jesuítas José de Acosta e Barnabé Cobo) compreenderam melhor a cultura nativa percebendo que as religiões indígenas conheciam também o Deus verdadeiro presente na natureza. Portanto, foi através da pregação apostólica de reconciliação baseada na revelação que começou a revalorização das religiões indígenas, influenciando assim para uma evangelização mais inculturada, apesar do peso do romanismo teológico-pastoral nascido da contrarreforma. Sendo assim, parece que o rosto índio de Deus não provém tanto da enculturação dos agentes de pastoral, mas do sincretismo dos índios em seu esforço de conservar as próprias crenças sobre Deus.

A segunda contradição inerente à evangelização era sua vinculação com o estado colonial. Na obra do missionário Pedro Quiroga , o índio Tito diz que “o primeiro e principal ponto (da evangelização) deve ser pregar-lhes a liberdade que Deus e o rei lhes dão...”. Tal resposta diante da evangelização impulsiva atrelada ao sistema colonial sensibilizou a espiritualidade profética de poucos missionários que tentaram superar essa contradição.

Bartolomeu de las Casas (1478 – 1566), frade dominicano espanhol, bispo de Chiapas (México), compreendeu o autogoverno dos índios e relutou em sua defesa, promovendo uma evangelização sem dominação colonial. Apesar do protesto profético contra a exploração dos índios e da construção utópica de sociedades indígenas livres, a maioria dos evangelizadores optou pela evangelização a partir das “repúblicas de índios” ou “comunidades indígenas” e em colaboração com o regime colonial.

Diante destas contradições entre evangelização e colonização, surgiu a resistência indígena, tendo até rebeliões como o movimento de Taquiy Onqoy na serra sul-peruana por volta de 1565.  Além disso, houve uma cristianização e um sincretismo religioso que consolidou novos movimentos religiosos.

O Documento de Puebla (1979) confirma a evangelização no presente e no futuro da América Latina, partindo do fato do encontro étnico hispano-lusitano com as culturas pré-colombianas e africanas.

A evangelização indígena hoje, em tese, tem a intenção que relaciona a fé com a cultura, o pensamento inculturado com a libertação e a pastoral com a missão profética. Fica a deixa.

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