SOMOS ÁTOMOS DE DEUS

SOMOS ÁTOMOS DE DEUS

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

MESTRE ECKHART




Mestre Eckhart foi um dos mais fecundos pensadores da filosofia medieval alemã. Como tal, Eckhart insere-se na longa corrente de uma mística neoplatônica, eivada das conclusões deAgostinho e do Pseudo-Dionísio, o Areopagita.
Nesta tradição, Eckhart, embora cravado de balas inquisitórias em seu tempo, não sai dos referenciais cristãos e da tradição. Ocorre, portanto, que o Mestre renano tem a estatura que lhe é negada pela Igreja de Roma, sob os velhos ranços da suspeita da heresia.
O problema da linguagem em Eckhart, entretanto, levanta problemas: como geralmente acontece no idioma místico-negativo, tudo parece recender a panteísmo. Não há, todavia, uma linguagem positiva que possa driblar a noção aparente de panteísmo na mística que seja digna do nome: o texto principal de Eckhart, este também objeto de uma interminável discussão acerca de sua autenticidade, orbita em torno de um Deus que somente é alcançado pelo ser humano na medida em que este, assemelhando-se a Deus mesmo, esvazia-se no desprendimento (abgeschiedenheit). Desprender-se é o movimento para o Nada. Desprender-se provoca os interesses divinos na alma que assim se faz vazia: uma gravidade divina tende, inevitavelmente, para todo cristão que assume a postura desprendida diante da vida, do sofrimento e da morte. De tal desprendimento, portanto, chegar-se-ia ao estágio necessário da gelassenheit: a plena serenidade não estóica diante da existência.
Assim como Deus é Nada, fazer-se Nada é atrair Deus a si mesmo sendo, assim, feitos como somos realmente: um com Deus que só é Deus na dimensão da existência, porém, não da essência e, destarte, o Mestre nos remete à origem humana e leva-nos a sermos o que já somos desde sempre.


MENSAGENS DE MESTRE ECKHART

"Se a única oração que você diz em toda a sua vida é "obrigado" isso já bastaria."
"Nada faz de alguém um verdadeiro ser humano, senão a renúncia à sua vontade. Em verdade, sem renúncia à vontade própria em todas as coisas nada conseguiremos perante Deus."

"Tu deves entregar-te a Deus com absolutamente tudo, e não te preocupares com o que Ele faz do que é seu."

"Só será uma vontade perfeita e verdadeira, aquela que entrar inteiramente na vontade de Deus, despojada de vontade própria. E quem mais longe tiver ido neste ponto, tanto mais e mais verdadeiramente terá ascendido a Deus.
"Em verdade, um homem que se tenha despojado inteiramente do que é seu estará de tal modo envolvido por Deus, que nenhuma criatura o conseguirá tocar, sem tocar primeiro em Deus; e aquilo que deverá chegar até ele, deverá primeiro passar por Deus; aí receberá primeiro o seu sabor e tornar-se-á divino."




Todo ser humano é de sangue real. Nasceu das profundezas
mais íntimas da natureza divina e é representante de Deus para espalhar amor e recriar permanentemente toda
criação divina.
Mestre Eckhart - Místico Medieval.

(PROTESTANTISMO NO BRASIL (JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA)(Pastoras)




CRONOLOGIA DAS IGREJAS PROTESTANTES NO BRASIL
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Cronologia_das_igrejas_protestantes_no_Brasil


PROTESTANTISMO NO BRASIL
http://pt.wikipedia.org/wiki/Protestantismo_no_Brasil


João Ferreira Annes d'Almeida, foi uma importante personalidade do protestantismo português, especialmente conhecido por ter traduzido a Bíblia para a língua portuguesa.


Anos iniciais

Filho de pais católicos, Almeida nasceu na localidade de Torre de Tavares, concelho de Mangualde, em Portugal. Ficou órfão ainda em criança e veio a ser criado na cidade de Lisboa por um tio que era membro de uma ordem religiosa. Pouco se sabe sobre a infância e início da adolescência de Almeida, mas afirma-se que teria recebido uma excelente educação visando a sua entrada no sacerdócio. Não se sabe o que teria levado Almeida a sair de Portugal mas talvez isso se devesse à forte influência exercida pela Inquisição em Portugal. Viajou para a Holanda e, aos 14 anos, embarcou para a Ásia, passando pela Batávia (actual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia. Naquela época, Batávia era o centro administrativo da Companhia Holandesa das Índias Orientais, no sudeste da Ásia.[carece de fontes]

Conversão ao protestantismo

Ao velejar entre Batávia e Malaca, na Malásia, Almeida, aos 14 anos de idade, leu um folheto protestante, em espanhol, intitulado "Diferencias de la Cristandad" (Diferenças da Cristandade). Este panfleto atacava algumas das doutrinas e conceitos católicos, incluindo a utilização de línguas incompreensíveis para o povo comum, tal como o latim, durante os ofícios religiosos. Isto provocou um grande efeito em Almeida sendo que, ao chegar a Malaca, converteu-se à Igreja Reformada Holandesa, em 1642, e dedicou-se imediatamente à tradução de trechos dos Evangelhos, do castelhano para o português.[2]

Tradutor da Bíblia

Dois anos mais tarde, João Ferreira de Almeida lançou-se num enorme projeto: a tradução do Novo Testamento para o português usando como base parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento em espanhol da tradução de Reyna Valera, 1569. Almeida usou também como fontes nessa tradução as versões latina (de Beza), francesa (Genebra, 1588) e italiana (Diodati, 1641). O trabalho foi concluído em menos de um ano, quando Almeida tinha apenas 16 anos de idade. Terminada em 1645, essa tradução não foi publicada. Mas o tradutor fez cópias à mão do trabalho, as quais foram mandadas para as congregações de Malaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Apesar da sua juventude, enviou uma cópia do texto ao governador-geral holandês, em Batávia. Crê-se que a cópia teria sido enviada para Amesterdão mas que o responsável pela publicação do texto faleceu resultando no desaparecimento do trabalho de Almeida. Em 1651, ao lhe ser solicitada uma cópia da sua tradução para a Igreja Reformada na ilha de Ceilão, Almeida descobriu que o original desaparecera. Lançando-se de novo ao trabalho, partindo de uma cópia ou rascunhos anteriores do seu trabalho, Almeida concluiu no ano seguinte uma versão revista dos Evangelhos e do livro de Actos dos Apóstolos. Em 1654, completou todo o Novo Testamento mas, uma vez mais, nada foi feito para imprimir a tradução, sendo realizadas apenas algumas poucas cópias manuscritas.[carece de fontes]
Almeida entrou no ministério da Igreja Reformada Holandesa, primeiramente como "visitador de doentes" e, em seguida, como "pastor suplente". Começou seu ministério tornando-se membro do Presbitério de Málaca, depois de escolhido como capelão e diácono daquela congregação.[carece de fontes]
No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região. Além de o português ser o idioma comumente usado nas congregações presbiterianas, era o mais falado em muitas partes da Índia e do Sudeste da Ásia. Acredita-se, no entanto, que o português empregado por Almeida tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastante erudito e, portanto, difícil de entender para a maioria da população. Essa impressão é reforçada por uma declaração dada por ele na Batávia, quando se propôs a traduzir alguns sermões, segundo palavras, "para a língua portuguesa adulterada, conhecida desta congregação".[carece de fontes]
Em 1656, ordenado pastor, foi indicado para o Presbitério do Ceilão na Índia, para onde seguiu com um colega, chamado Baldaeus. Durante os três anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução de partes do Novo Testamento feita anteriormente. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, Almeida acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias.[carece de fontes]
Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor. Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de "superstições papistas", que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657). Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, voltou a enfrentar problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida não é conhecido, mas supõe-se que estivesse novamente relacionado com as ideias fortemente anticatólicas do tradutor.[carece de fontes]
A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece não ter sido das mais tranquilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. De acordo com seu amigo Baldaeus, o fato aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa. Foi também durante a estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu sua mulher e casou-se. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrécia de Lamos). Um acontecimento curioso marcou o começo de vida do casal: numa viagem através do Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.[carece de fontes]

Ideias e personalidade

Sendo considerado um dos primeiros missionários protestantes a visitar aquele país, visto que servia como missionário convertido, ao serviço de um país estrangeiro, e ainda devido à exposição directa do que considerava serem doutrinas falsas da Igreja Católica, bem como à denúncia de corrupção moral entre o clero, muitos entre as comunidades de língua portuguesa passaram a considerará-lo apóstata e traidor. Esses confrontos resultaram num julgamento por um tribunal da Inquisição em Goa, Índia, em 1661, sendo sentenciado à morte por heresia. O governador-geral da Holanda chamou-o de volta a Batávia, evitando assim a consumação da sentença.[carece de fontes]
A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. Os registros a esse respeito mostram muito de suas ideias e personalidade. Entre outras coisas, Almeida conseguiu convencer o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria cerimônia da Ceia do Senhor. Também propôs que os pobres que recebessem ajuda em dinheiro da igreja tivessem a obrigação de frequentá-la e frequentar o catecismo. Ofereceu-se para visitar os escravos da Companhia das Índias em seus bairros, dando-lhes aulas de religião — sugestão que não foi aceita pelo presbitério — e, com muita frequência, alertava a congregação a respeito das "influências papistas".[carece de fontes]
Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Foi somente então que passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado — sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E também que, sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo da Batávia e a da Companhia das Índias Orientais, na Holanda.[carece de fontes]

Exemplares destruídos

Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais — mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério conseguiu parar o processo, e a impressão foi interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões e brigas, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito fora revisado e estava sendo impresso naquele país.[carece de fontes]
Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. Um ano depois, ela chegou à Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão. O fato foi comunicado às autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam na Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto.[carece de fontes]
Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (um desses volumes pode ser visto hoje no Museu Britânico, em Londres). O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída.[carece de fontes]
Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a trabalhar o Antigo Testamento. Em 1683, completou a tradução do Pentateuco. Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que acontecera na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada — pelo menos desde 1670, segundo os registros —, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual dedicara toda a vida. Em outubro de 1691, Almeida morreu. Nessa ocasião, chegara a Ezequiel 48:21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.[carece de fontes]

Tradução após a morte de Almeida

A segunda edição do Novo Testamento em português, revista pouco antes da morte de Almeida, veio a ser publicada em 1693. No entanto, alguns historiadores afirmam que, uma vez mais, esta segunda edição foi desfigurada pela mão dos revisores. Perdendo-se a motivação para a continuação do trabalho de tradução da Bíblia para o português na Ásia, foi a pedido dos missionários dinamarqueses em Tranquebar, no sul da Índia e então parte da Índia Dinamarquesa, que uma sociedade inglesa, a Society for Promoting Christian Knowledge, em Londres, financiou a terceira edição do Novo Testamento de Almeida, em 1711. Durante o Século XIX, a British and Foreign Bible Society e a American Bible Society distribuíram milhares de exemplares da versão de Almeida em Portugal e nas principais cidades do Brasil. Isto resultou em tornar a Tradução João Ferreira de Almeida um dos textos mais populares das Escrituras em língua portuguesa, sendo especialmente usada pelos evangélicos lusófonos.[carece de fontes]

Atualmente

Atualmente é editada em Portugal pela Sociedade Bíblica de Portugal e no Brasil principalmente pela Sociedade Bíblica do Brasil e pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

TEXTO AVALIATIVO DO ENSINO RELIGIOSO


0 Ensino Religioso é um conhecimento como qualquer outro que se preocupa em investigar um determinado objeto para estudo. Neste sentido o objeto de estudo de Ensino Religioso se encontra nas experiências religiosas das pessoas que buscam uma ligação com o Sagrado. Desta forma une fé e vida.

Poderíamos começar uma investigação a partir de alguns líderes religiosos que tiveram uma experiência de fé exemplar e possibilitaram a fundação das primeiras religiões. As exemplo disto podemos citar: Abraão (judaísmo); Sidarta Gautama (budismo); Confúcio (confucionismo); Lao- Tsé (taoísmo); Jesus Cristo (cristianismo); Maomé (islamismo); Lutero (luteranismo); Allan Kardec (espiritismo) entre outros.

Poderíamos também perceber nas religiões indígenas e africanas uma fundamentação original e autêntica na organização desses povos que têm um cuidado muito grande com a natureza (ecologia) como algo sagrado, assim como o respeito fraternal entre os seus semelhantes. E com o progresso da revolução industrial o mundo globalizado  ficou mais poluído e violento. Portanto, menos desenvolvimento humano.

Compreendendo que nas diversas culturas nasceram as religiões, seus textos sagrados, as teologias, os ritos e símbolos, as normas de vida (ética), entendemos que o diálogo (inter-religioso) entre as pessoas das diversas religiões pode e deve ser um caminho para um mundo melhor, caracterizando assim, o "Tempo de Transcendência", isto é, o tempo de Deus, de justiça e paz, de uma sociedade verdadeiramente fraterna e solidária.

Não podemos ficar debochando da religião do outro achando que existe uma melhor do que a outra. A opção por um caminho de fé é livre e merece respeito. Contudo, é preciso conhecer melhor estudando o mundo em que vive para discernir com clareza e respeito algo que é visto como Sagrado. Se a religião busca uma ligação com Deus, não quer dizer que a ciência está separada desta dimensão. Fé e ciência andam juntas. Como disse Einstein: "A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega".

"Mesmo que tenha o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
O amor nunca desaparece. As profecias? Serão abolidas. As línguas? Cessarão. O conhecimento (ciência)? Será abolido". (1Cor 13,2.8).


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

RELIGIÃO (Gibran)



Texto

E um velho sacerdote disse: Fala-nos da Religião.

E ele respondeu:
Terei falado de outra coisa até agora?

Não será a religião senão todos os atos e toda a reflexão, e tudo aquilo que não é ato nem reflexão, mas encantamento e surpresa sempre emergentes da alma, mesmo quando as mãos talham a pedra ou trabalham no tear?

Quem poderá separar a sua fé das suas ações, ou as suas crenças das suas ocupações?

Quem pode estender as suas horas perante ele dizendo, "Isto é para Deus e isto é para mim, isto é para a minha alma e isto para o meu corpo?"

Todas as vossas horas são asas que voam no espaço de um eu para o outro eu.

Aquele que usa a sua moral como a sua melhor indumentária faria melhor se andasse nu.

O vento e o sol não abrirão buracos na sua pele.

E aquele que rege a sua conduta pela ética está a aprisionar numa gaiola o pássaro que canta.

Os cânticos mais livres não saem através de grades nem grilhetas.

E aquele para quem a devoção é uma janela, para abrir mas também para fechar, ainda não visitou a morada da sua alma cujas janelas vão de aurora a
aurora.

A vossa vida diária é o vosso templo e a vossa religião.

Cada vez que entrais nela, entrai por inteiro.

Levai a charrua e a forja, o maço e a lira.

As coisas de que precisais por necessidade ou prazer.

Pois em sonhos não podereis erguer-vos acima dos vossos feitos, nem cair mais baixo do que as vossas falhas.

E levai convosco todos os homens, pois na adoração não podereis voar mais alto do que as suas esperanças, nem humilhar-vos mais baixo do que o seu desespero.

E se quereis conhecer Deus, não pretendais resolver enigmas.

Olhai antes à vossa volta e vê-Lo-eis a brincar com os vossos filhos.

E olhai para o espaço: vê-Lo-eis a caminhar sobre as nuvens, de braços estendidos para a luz, descendo sobre a chuva.

Vê-Lo-eis sorrindo no meio das flores, e depois erguer-se e agitar as árvores com as Suas mãos.



                                                     &A&


Do livro “O Profeta”  (sem indicação de tradutor)

Créditos:
http://www.clube-positivo.com/biblioteca/pdf/profeta.pdf


Khalil Gibran (República do Líbano)

EQM (EXPERIÊNCIA DE QUASE-MORTE)

Experiência de quase-morte

Origem:

O termo experiência de quase-morte ou EQM refere-se a um conjunto de visões e sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente por motivo de hipóxia cerebral (geralmente derivadas de paradas cardiorrespiratórias), sendo as mais divulgadas o efeito-túnel e a experiência fora-do-corpo (EFC ou OOBE, também denominada autoscopia). O termo "experiência de quase-morte", em francês "expérience de mort imminente" foi proposto pelo psicólogo e epistemólogo francês Victor Egger em 1896 em "Le moi des mourants" como resultado das discussões no final século XIX entre filósofos e psicólogos, relativo as histórias de escaladores sobre a revisão panorâmica da vida durante quedas[1] As EQM foram popularizados com o trabalho do psiquiatra Raymond Moody em seu livro Vida Depois da Vida, escrito em 1975 sob o nome de Near-death experiences (NDEs), repetindo a frase já proposta por Victor Egger.[2]
Muito se estuda sobre as experiências de quase-morte mas não existe consenso científico e nem prova científica sobre o significado e a causa desses fenômenos. Vários médicos, parapsicólogos, cientistas e espiritualistas em geral, apontam as experiências como provas da experiência fora-do-corpo (OOBE) e da vida após a morte, por outro lado, as experiências de quase-morte são descritas nas revistas médicas, na maioria das vezes, como tendo as características de alucinações.

Um túnel de luz numa tela de Bosch, tipificando uma visão recorrente em experiências de quase-morte.
As pessoas que viveram o fenômeno relatam, geralmente, uma série de experiências comuns, descritas nos estudos de Elizabeth Kubler-Ross (1967), tais como:
um sentimento de paz interior;
a sensação de flutuar acima do seu corpo físico;
a impressão de estar em um segundo corpo, distinto do corpo físico;
a percepção da presença de pessoas à sua volta;
a visão de seres espirituais;
visão de 360º;
sensação de que o tempo passa mais rápido ou mais devagar;
ampliação de vários sentidos;
a sensação de viajar através de um túnel intensamente iluminado no fundo (efeito túnel).
Nesse espaço, a pessoa que vive a EQM percebe a presença do que a maioria descreve como um "ser de luz", embora seu significado possa variar conforme os arquétipos culturais, a filosofia ou a religião pessoal. O portal entre essas duas dimensões é também descrito como a fronteira entre a vida e a morte. Por vezes, alguns pacientes que viveram essa experiência relatam que tiveram de decidir se queriam ou não regressar à vida física. Muitas vezes falam de um campo, uma porta, uma sebe ou um lago, como uma espécie de barreira que, se atravessada, implicaria não regressarem ao seu corpo físico.
Com a multiplicação de referências a acontecimentos comparáveis à experiência de quase-morte, iniciou-se uma nova corrente, em que diversos pesquisadores de todo o mundo deram início à discussão e à análise do fenômeno de forma mais aberta. Grupos da comunidade médica passaram a olhar para a morte e a sobrevivência da consciência sob uma nova perspectiva, como ocorre, por exemplo, na Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. Enquanto existem observadores que atribuem esse fenômeno a experiências espirituais, outros recorrem a teorias como alucinação, memória genética ou a simbolização do nascimento biológico.


Mudanças psicológicas e comportamentais

Após a experiência de quase-morte, muitas pessoas declaram terem alterado seus pontos de vista em relação ao mundo e às outras pessoas. As mudanças comportamentais geralmente são significativamente positivas, e o principal fator para a mudança é a perda do medo da morte (tanatofobia). Em geral, a pessoa diz enxergar o mundo de maneira mais vívida, ser inundada por sentimentos de bondade e amor ao próximo, ter vontade de ajudar os necessitados, sentir abertura a uma forma de religiosidade não-dogmática e a crenças orientais como a reencarnação, aceitar-se mais e aceitar mais os outros, perder o sentido de importância do ego e se preocupar menos com as opiniões dos outros. Essas pessoas alegam que passaram a valorizar mais as suas vidas e as dos outros, reavaliaram os seus valores, a ética e as prioridades habituais e tornaram-se mais serenas e confiantes.

Investigação científica

Até recentemente, este fenômeno era considerado pela ciência um assunto vulgar, fruto de lendas, crendice popular ou religiosidade. No entanto, na década de 1970, pesquisas como a do Dr. Raymond Moody e a da Dra. Elizabeth Kubler-Ross, principalmente após a publicação dos livros Vida Depois da Vida e Sobre a Morte e o Morrer, respectivamente, levaram ao início de uma corrente de pesquisas em todo o mundo sobre o fenômeno.
Estudos realizados em hospitais, entre sobreviventes de paradas cardíacas, em que se observou que o fenômeno ocorre em cerca de 11% dos pacientes[4], incluindo os do cardiologista holandês Pim Van Lommel [5] [6], demonstram também que os fatos são possivelmente explicáveis pela falta de oxigênio no cérebro [7] [8] [9], em pacientes nos quais a morte encefálica não foi comprovada[10]. As descrições de experiências de quase-morte podem ser parcialmente reproduzidas por medicações como a quetamina[11] ou por indução de hipóxia cerebral por alta gravidade[12], incluindo visão em túnel, comunhão com Deus, saída do corpo e alucinações. Fenômenos semelhantes ocorrem em algumas formas de epilepsia e AVC. Mas as explicações biológicas perdem força ao se considerarem os fenômenos de percepção extrassensorial alegados por muitos sobreviventes EQM.
As investigações científicas sobre assuntos relacionados com o pós-morte sempre existiram e foram diversas vezes motivo de debate acadêmico [13] [14] [15]. Mesmo com tanto interesse e a presença de numerosos relatos anedóticos, ainda não há qualquer comprovação científica que suporte essa teoria, portanto ainda é uma hipótese não-verificada. Os modelos biológicos tanto podem significar que se trata de uma alucinação como que o cérebro pode conter algum mecanismo para perceber um mundo espiritual à nossa volta. Os estudos em neurociência e neuroteologia prosseguem.
A experiência de quase-morte é muito semelhante às experiências místicas de diversas tradições, como nos livros de Teresa de Ávila.
Um relato intrigante descrito por Moody em seu livro Luz do Além " Uma mulher de setenta anos, cega, desde os dezoito, foi capaz de descrever com detalhes vívidos, enquanto os médicos tentavam ressuscitá-la de um ataque do coração. Ela conseguia dar boa descrição dos instrumentos que foram utilizados e até mesmo de suas cores. Além de tudo isso, ela ainda disse ao médico que ele usava jaleco azul quando começou a ressuscitá-la". Acontece que falta a Ciência a coragem de questionar sues métodos para que possa entender fenômenos subjetivos que transcendem o reducionismo materialista.


O DIREITO, O JUSTO E A JUSTIÇA


O direito, o justo e a justiça.

Um estudo à luz da Bíblia


            Não existe um único termo hebraico para expressar essa nossa idéia de justiça; o seu significado está contido nos conceitos de juízo e retidão.
            O significado básico do vocábulo talvez apareça melhor quando é aplicado a pesos e medidas (Dt 25, 15; Lv 19, 36; Jó 31, 6; Ez 45, 10); um peso "justo" é aquele que o é quando se supõe que seja. Um caminho certo leva a uma direção correta (Sl 23, 3); sacrifícios corretos são aqueles que são oferecidos de acordo com as prescrições cultuais (Dt 33, 19; Sl 4, 6; 51, 21). O rebento justo que Iahweh suscita para Davi é provavelmente um rebento legítimo (Jr 23, 5).
            Aqui aparece o elemento comum do que é justo: aquilo que corresponde a um modelo. Iahweh dá a chuva da justiça (Jl 2, 23), isto é, no tempo e medida certos. O santuário que se tornou justo (Dt 8, 14) é aquele que é purificado para o culto divino.
            Na linguagem comum, o grupo de palavras ligadas a çedeq é usado nos processos judiciários, e normalmente o seu uso está na base de sua aplicação em outras situações; está nesse uso aquilo que é freqüentemente melhor traduzido por justo ou justiça.
            Os juízes não devem julgar com parcialidade, mas com justiça (Lv 19, 15; Dt 1, 16). Seus veredictos devem ser justos (Pr 31, 9; Dt 16, 18.20), assim como os decretos dos governadores (Pr 8, 15). Processo ilegal pisoteia a justiça (Am 5, 7) e converte o direito em veneno (Am 6, 12).
            Por isso, aquele que tem çedeq ou é çaddîq está no direito, seja legalmente (Ex 23, 7-8; Dt 25, 1; 2Sm 15, 4; 1Rs 8, 32; Pr 17, 15.26; 18, 5.17; 24, 24; Is 5, 23; 29, 21; Am 2, 6; 5, 12), seja em outros contextos (1Sm 24, 18; Jó 27, 5; 32, 1).
            "Justiça" quer dizer inocência de uma acusação, no direito ou em alguma outra situação, ou ausência de qualquer acusação (Gn 20, 4; 44, 16; 2Sm 4, 11; 1Rs 2, 32).
            As aflições de Jó são concebidas no primitivo pensamento sapiencial, como evidência de que ele é culpado diante de Iahweh, e Jó proclama repetidamente sua justiça, sua inocência (Jó 9, 2; 15.20; 10, 15; 13, 18; 33, 12; 34, 5), e Eliú deseja dar razão a Jó (Jó 33, 32).
            O Servo de Iahweh, cujas angústias dão quase a aparência de que Iahweh é seu inimigo, será encontrado inocente (Is 53, 11). Tamar é "mais justa" do que Judá, isto é, "menos culpada" (Gn 38, 26), e Israel foi mais justo que Judá no mesmo sentido (Jr 3, 11; Ez 16, 52). Nem as nações nem Israel têm uma causa justa em face de Iahweh (Is 43, 9.26).
            Visto que a justiça, nesses casos, é medida pelo padrão da lei, a própria lei pode ser chamada de "justiça", especialmente a lei de Iahweh (Sl 119, 7.62 +), e a retidão, isto é, a justiça, é uma propriedade da lei (Dt 4, 8).
            Mas, freqüentemente, a justiça é vista como uma qualidade pessoal que deve ser encontrada no rei, que é a fonte da lei e o administrador da justiça (2Sm 23, 3). O trono é consolidado na justiça (Pr 16, 12; 25, 5). O rei bom ama a justiça (Sl 45, 8); o rei mau, Joaquim, constrói a casa na injustiça (Jr 22, 13).


            "Fazer justiça" tem uma força peculiar quando é dita a respeito do rei (Jr 22, 15), pois refere-se à sua administração. Ela foi encontrada nos maiores reis israelitas: Davi (2Sm 8, 15; 1Rs 3, 6) e Salomão (1Rs 10, 9).
            A justiça é considerada especialmente como uma qualidade do rei ideal ou messiânico (Sl 72, 1-3; Is 9, 6; 11, 4-5; 16, 5; Jr 23, 5; 33, 15; Ez 45, 9). Sem dúvida, a ênfase nessa qualidade do rei ideal reflete sua freqüente e visível ausência na administração real e judiciária ordinárias do último período da monarquia de Judá.

            Çedeq é uma qualidade enraizada na lei e encontra-se precisamente nos legisladores e nos administradores da lei. Ela adquire facilmente o significado de conduta de acordo com a lei; e esse é o sentido mais específico das palavras portuguesas "justo" e "justiça".

            Çedeq, como conduta reta, opõe-se ao pecado, à impiedade etc. Jerusalém, a cidade da justiça, era formalmente a cidade em que ela residia (Is 1, 21.26). Procurar a justiça é paralelo, em poesia, a "procurar Iahweh", pois é através da boa conduta que Iahweh é encontrado (Is 51, 1; Sf 3, 3). Mais precisamente, a conduta reta é honestidade contraposta a engano e veracidade oposta a falsidade (Gn 30, 33; Jr 4, 2).
            Fazer justiça é normalmente a conduta reta em geral e não a administração da justiça (Ml 3, 18). O justo vive por sua fidelidade. Quando ele morre, não obstante a sua justiça, é uma perversão da ordem cósmica (Ecl 7, 15).
            Iahweh julga o homem de acordo com a sua justiça (2Sm 22, 25). Ela salva da morte (Pr 10, 2); a vida encontra-se em seus caminhos (Pr 12, 28); ela alcança uma coroa (Pr 16, 31). Iahweh deseja que em Israel o direito corra como a água e a justiça como um ribeiro perene (Am 5, 24); direito e justiça aqui são a conduta reta em oposição ao culto prestado com exatidão mecânica, mas sem devoção interior.
            Deus não retira seu olhar favorável do justo (Jó 36, 7); ele o abençoa (Sl 5, 13) e o sustém (Sl 7, 9). O uso do grupo vocabular çedeq no sentido de boa conduta moral é extremamente comum nos salmos e na literatura sapiencial, mas não se limita aos livros mais tardios.
            A conduta freqüentemente mostra que a palavra çedeq significa um direito ou uma condição; çedeq, como meio de salvação em Ez 14, 14-20, é sua conduta que estabelece uma reivindicação diante de Iahweh, para que livre alguém do mal.
            Quando a fé de Abraão lhe é imputada como justiça (Gn 15, 6), quer dizer que a sua fé não é apenas a atitude correta de respeito às promessas de Iahweh, mas que ela lhe estabelece o motivo para o seu cumprimento.
            Em outras passagens, a conduta reta leva à salvação; provavelmente seja isso que significa nos campos ou moradas da justiça (Jr 31, 23; 50, 7).
            O jogo de palavras é claro em Os 10, 12; Israel deve semear çedeq, conduta reta, e Iahweh fará chover çedeq, salvação. Quando Iahweh restitui a um homem e sua çedaqah, restitui-lhe a propriedade que é a condição própria do justo.


            Há muitas passagens em que a conduta reta semeada por Iahweh, çedeq etc. podem ser traduzidos simplesmente como salvação, libertação e justificação.
            Quando alguém tem uma justa reivindicação ou direito, ou quando alguém é acusado, o seu processo não é somente justiça submetida à lei, é também salvação pessoal.
            Esse, o uso mais especificamente teológico do grupo çedeq, pois essa justiça é obra de Iahweh, que intervém para estabelecer ou para conceder "justiça", salvação. A "morada do justo" de Jó é a morada que Deus protege (Jó 8, 6). Os amigos do salmista são felizes pela sua afirmação de justiça (Sl 35, 27); ele verá a face de Iahweh na justiça, isto é, quando for salvo (Sl 17, 15).

            Çedeq designa a salvação messiânica (Is 24, 16; 45, 8.25; 54, 14; 58, 5; 62, 1). Iahweh é a nossa salvação, çedeq (Jr 23, 5). Os sacerdotes são vestidos de çedeq, salvação, paralelo de alegria (Sl 132, 9); as portas de çedeq são as portas da salvação (Sl 118, 19). O fruto de çedeq e do juízo é bem-estar e segurança (Is 32, 17). A obra do Servo de Iahweh é justificar a muitos (Is 53, 11). Quando o rei messiânico aparecer, ele será "justo" e vitorioso (Zc 9, 9).
            A qualidade legal de justiça aparece também em Iahweh, pois ele é o justo juiz (2Cr 12, 6; Jó 8, 3; 34, 17; Sl 7, 10; 11, 7; Is 10, 22; 28, 17; Jr 11, 20; Sf 3, 5). Ele é justo e fiel também no seu governo geral; a "justiça" própria do rei encontra-se em grau eminente em Iahweh (Dt 32, 4; Sl 119, 137; Jó 36, 3; Is 5, 16). Por isso, a lei de Iahweh é chamada simplesmente de "justiça" (Sl 119, 142).
            O maior número de aplicações do grupo çedeq a Iahweh significa sua "justiça" como um atributo de salvação, seu poder e vontade salvíficos. A justiça de salvação que ele opera é atribuída a ele, que é seu agente. Iahweh revela-se justo em efetivar a libertação, em justificar o seu povo.
            Visto que a libertação é um cumprimento de suas promessas, a justiça é freqüentemente acompanhada nessas passagens com fidelidade. Essas duas qualidades são personificadas como seus servos (Sl 85, 11-14). Elas são os fundamentos do trono de Iahweh, como são os fundamentos do trono de um rei humano, mas em Iahweh são concebidos como atributos salvíficos (Sl 97, 2).
            Ele chama seu servo Ciro "em çedeq", na sua vontade de salvar (Is 42, 6; 45, 13). Sua destra justa é sua destra que salva (Is 41, 10). Esse atributo salvífico é acompanhado de amor, fidelidade e juízo (Sl 71, 19), de bênção (Sl 24, 6), de cura (Ml 3, 20). É celebrado por aqueles que o experimentam (Sl 33, 32; 40, 11; 51, 16; 71, 15-16; 89, 17).
            A "justiça" de Iahweh está em suas ações salvíficas, seja na experiência histórica de Israel, seja no indivíduo no futuro messiânico (Jz 5, 11; 1Sm 12, 7; Sl 103, 6; Is 45, 24; Dn 9, 16; Mq 6, 5; Sl 31, 2; 35, 24.28; 36, 11; 40, 10; 48, 11; 50, 6; 97, 6; 103, 7; Pr 8, 18; Is 1, 27; 42, 21; 46, 13; 51, 5; 54, 17; Mq 7, 9; Zc 8, 8).
            Esses textos são suficientes para ilustrar o uso do termo, comum em Is 40-66, em textos contemporâneos ou mais recentes. Esse desenvolvimento do termo, não desconhecido na literatura mais antiga, parece ter-se tornado um epíteto fixo de Iahweh somente na literatura exílica e pós-exílica.
            Essa visão vocabular demonstra que a idéia traduzida um tanto imprecisamente como "justo" é complexa e deve ser entendida em seu contexto.


            O Novo Testamento usa o termo grego dikaiosis para dizer "processo". Na maioria dos exemplos, a palavra é utilizada no sentido de salvação, libertação, justificação ou como uma transformação devida a alguma idéia especificamente cristã.
            "Justo" significa "inocente" (Mt 27, 4.19; Lc 23, 47); os paralelos em Lc 23, 47; Mt 27, 54; 15, 39 têm inocente em lugar de "filho de Deus", mas é duvidoso que Lucas entenda "justo" como sinônimo desse título.
            O adjetivo aparece com o significado que tem o uso corrente em Mt 20, 4; Lc 12,57; Fl 1, 7; Cl 4, 1; 2Pd 1, 13, isto é, direito, próprio etc., mas, mesmo nesse sentido, recebe uma modificação cristã em At 4, 19; Ef 6, 1; 2Tm 1, 6 pelo acréscimo de "diante de Deus", "com Deus" e pela inclusão de que aquilo que é justo é a lei divina.
            Os juízos de Deus são justos (1Pd 2, 23; Ap 16, 7; 19, 2). O justo é freqüentemente o homem de boa conduta (Mc 2, 17; Lc 5, 32), mas o termo é usado aqui com ironia (Mt 5, 45; 13, 49; 23, 28; 25, 37.46; Lc 15, 7; 18, 9; 20, 20); os justos são opostos aos ímpios no juízo escatológico (Hb 12, 23; Tg 5, 16; 1Pd 3, 12; 4, 18; Ap 22, 11).
            Lc 14, 14 e At 24, 15 aludem a duas diferentes concepções da ressurreição que aparecem no judaísmo: uma limitando-a aos justos e a outra estendendo-a também aos ímpios. A tríplice repetição do adjetivo em Mt 10, 41 talvez não seja sem significado: o "justo" em cujo nome é oferecido o copo de água talvez seja Deus.
            Um uso especificamente no Novo Testamento aparece na designação de Jesus como "o justo" (At 3, 13-14; 7, 52; Tg 5, 6; 1Pd 3, 18). Esses contextos, nos quais há alusão à morte de Jesus, sem dúvida, enfatizam sua inocência, mas sugerem também a sua vitória e o seu triunfo, particularmente 1Jo 2, 1, onde Jesus é chamado de justo e é glorificado.
            A "justiça" que Jesus veio cumprir (Mt 3, 15) é aquilo que é exigido. A justiça que é objeto da fome e sede (Mt 5, 6) parece ser, no contexto das outras bem-aventuranças, as boas obras; por si mesma a expressão poderia indicar a vontade salvífica ou o juízo de Deus.
            A salvação do reino parece ser designada como justiça em Mt 6, 33. A justiça de que Jesus convence o mundo é a sua vitória por sua subida ao Pai (Jo 16, 8.10). A frase de Is 32, 17 "o fruto da justiça (salvação) é a paz" é citada ou há alusão tática a ela em Hb 12, 11 e Tg 18.
            Justiça é boa conduta em Mt 5, 10.20; 6, 1; Lc 1 ,75; At 10, 35; 13, 10; 24, 25; 2Pd 2, 5.21. Em outras passagens aparece, numa forma inicial, a transformação que é tão radical em Paulo.
            A libertação do pecado, a fim de viver para a justiça, é o estado peculiarmente cristão de bondade moral e libertação do pecado (=salvação) conferida por Jesus. Assim também a morada da justiça nos cristãos (2Pd 3, 13) sugere a obra salvífica de Jesus. Noé, participante da justiça que vem da fé (Hb 11, 7), possui em Hb a posição que Abraão tem em Rm e Gl.
            O cristão que "pratica a justiça", no significado do Antigo Testamento, é justo como Jesus (1Jo 3, 7), e essa justiça é especificada em 1Jo 3, 10 como o amor ao irmão. Em Tg 1, 20, a justiça de Deus é a justiça dele.


            O verbo dikaiûn em Ap 22, 11 quer dizer um modo especial de ser justo. Em outras partes, fora dos escritos paulinos, significa declarar (Deus) justo (Lc 7, 29), ser provado justo (Mt 11, 19; Lc 7, 35; Rm 3, 4, citando o Sl 50, 6) e é usado em sentido diverso em Lc 10, 29; 16, 15. Em Mt 12, 37 tem o significado de ser absolvido. Lc 18, 14 aproxima-se do conceito paulino de ser libertado do pecado.
            O hino de 1Tm 3, 16 aplica o termo a Jesus em sentido diverso, como em outras partes do Novo Testamento. Jesus foi justificado no espírito, provavelmente na sua ressurreição, demonstrando ser aquilo que afirmara ser.
            O substantivo dikaioma indica uma lei (Lc 1, 6; Rm 1, 32; 2, 26; 8, 4; Hb 9, 1.10), um ato salvífico de Deus (Ap 15, 4), ou os atos justos do justo (Ap 19,8). Em Rm 5, 18 assinala a morte de Jesus, que é um ato salvífico e de justificação.
            Para Paulo, a concepção de "justo" é talvez a mais complexa de todas as suas idéias; a palavra "justificação" foi um dos pontos básicos da doutrina de Lutero, e foi discutida no Concílio de Trento.
            Paulo emprega o termo em sentido neutro, como "as armas da justificação" (2Cor 6, 7), "inocente" (1Cor 4, 4). Ele relaciona-se com uma nomenclatura do Velho Testamento, que devia levar a adaptar-se à plenitude de sua intuição do mistério cristão. Ele sabe que a justiça é a observância da lei, conduta normalmente reta (Rm 2, 13; 10, 5).
            Visto que o evento cristão abre o homem a uma nova justiça, considerando que esta vem através de Cristo, não é nem pode ser alcançada pelas obras da lei. Portanto, Paulo chega à conclusão (Rm 3, 10) de que ninguém é justo, nem judeu nem grego: todos são pecadores.
            Em Rm e Gl, Paulo insiste que a lei e as suas obras não alcançam a justiça (Rm 3, 11.28; Gl 2, 21; 2, 16; 3, 11). Paulo não se refere à justiça do Antigo Testamento, mas à justiça trazida por Cristo. Essa justiça pode ser adquirida somente pela fé em Cristo, e aqui Paulo cita mais de uma vez Hab 2, 4 (Rm 1, 17; 3, 28; 4, 5; 5, 1; 9, 30-31; Gl 2, 16; 3, 8.11.24).
            Isso é apresentado em At 13, 38-39 como um princípio fundamental da primitiva pregação com a justiça que vem de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Fl 3, 9). Essa justiça do homem não é obra do homem por realização ou mérito; só Deus o justifica (Rm 3, 30). Aqueles que Deus chamou também justificou (Rm 8, 30), e ninguém pode condenar o homem a quem Deus justificou (Rm 9, 34).
            Com o dom da justiça nós reinamos na vida (Rm 5, 17). Deus opera essa justiça através da morte de Jesus. Cristo é a justiça (1Cor 1, 30); os cristãos são justificados em seu nome (1Cor 6, 11). Nós somos justificados gratuitamente mediante a graça de Deus para revelação do Senhor Jesus Cristo (Rm 5, 1): a obra salvífica da justiça de Cristo justifica a muitos e confere-lhes a vida (Rm 5, 18). O cristão torna-se justo, libertado de seu pecado, pela morte à carne em Cristo (Rm 6, 7); ele é salvo da ira se é justificado pelo sangue de Jesus (Rm 5, 9-10). Essa justiça é recebida no espírito (1Cor 6, 11).
            Que é, então, essa nova justiça? A nova justiça dos homens é a justiça conferida a eles pela vontade salvífica de Deus. Já não é meramente retidão moral, que fora alcançada pela observância da lei. É a libertação do pecado (Rm 5, 16). É vida no espírito (Rm 8, 10). O cristão, liberto do pecado, torna-se escravo da justiça (Rm 6, 18-19).
            Justiça e iniqüidade contrapõem-se como luz e trevas (2Cor 6, 14). O reino de Deus é paz, graça, justiça, no Espírito Santo (Rm 14, 17). O cristão está repleto dos frutos da justiça que vêm através de Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus (Fl 1, 11); o fruto da luz está contido em tudo o que é bom, justo e verdadeiro (Ef 5, 9). A justiça perfeita e completa é ainda objeto de esperança a realizar-se escatologicamente (Gl 5, 5).
            O "justo" é "justo" com Deus, é salvo e justificado, recebeu nova vida da sua justificação. Assim, a justiça do cristão é seu estado de justificação e libertação alcançado através da morte de Cristo.

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